Há muitos anos eu tinha uma curiosidade enorme em desbravar a capital maranhense e de quebra conhecer os famosos lençóis que ficam a apenas 250 quilômetros da capital. Assim sendo, neste mês de junho tive a oportunidade de programar uma breve passagem de 4 dias pela região e conhecer a história e as paisagens deste pedacinho do Brasil justo em um período repleto de festas juninas e Bumba meu Boi.
São Luiz é a capital do estado e desde 1997 carrega o título de Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO com seu centro histórico de cerca de 220 hectares tombados por seu conjunto arquitetônico colonial português.

Antes mesmo da chegada dos portugueses em 1615 com sua arquitetura colonial que utilizava azulejos na impermeabilização das fachadas para proteger as construções do clima quente e úmido, os franceses foram os primeiros a chegar naquelas bandas em 1612 em um projeto arrojado chamado de França Equatorial sob o comando de Daniel de la Touche e seus 3 navios com cerca de 500 homens que com a ajuda dos índios tupinambás construíram o primeiro forte entre os rios Anil e Bacanga.
A cidade ainda viria a ser invadida pelos holandeses em 1644 quando parte da muralha construída pelos franceses foi destruída e somente no Séc XVII a cidade voltou a se desenvolver sob o domínio português em torno à fortaleza onde hoje encontra-se o Grand Hotel São Luiz.
Este fatores históricos marcaram profundamente a história de São Luiz que ainda hoje carrega em suas avenidas os nomes de Daniel de La Touche, dos portugueses e dos africanos que tiveram um papel importantíssimo na formação cultural da cidade. No período colonial a burguesia ergueu seus palacetes com o trabalho escravo dos africanos que deixaram seu suor impressos nestas obras que perduram nos séculos como herança colonial que carrega muito mais que um simples azulejo português ou francês.
Centro Histórico
São Luiz é chamada de a capital dos azulejos e geralmente os visitantes que chegam pela primeira vez ao centro histórico reagem com uma certa indignação em relação à falta de conservação de muitos edifícios que afinal de contas fazem parte do atrativo principal da cidade, porém vale lembrar que a manutenção deste patrimônio envolve um investimento bastante grande e a maioria dos azulejos presentes nos edifícios nem sequer existem mais, além do clima quente e úmido ser um dos grandes agravantes na conservação destes edifícios e casas.



Outro grande atrativo da cidade são os tradicionais arraiás juninos com apresentações de grupos folclóricos do Bumba meu boi (registrado como patrimônio cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), que numa mistura de dança, teatro e circo contam a lenda de um casal de escravos, Pai Francisco e Mãe Catirina. Grávida, Catirina começa a ter desejos por língua de boi. Para atender suas vontades, seu marido tem de matar o boi mais bonito de seu senhor. Percebendo a morte do animal, o dono da fazenda convoca curandeiros e pajés para ressuscitá-lo. Quando o boi volta à vida, toda a comunidade celebra.

Cada ano os arraiás são montados em locais pré-estabelecidos pela prefeitura da cidade e duram quase todos o mês de junho, portanto se estiver visitante o estado neste periodo fique de olho na programação.
Catedral da Sé
A atual catedral de São Luiz foi uma antiga igreja jesuíta construída a partir de 1690 pelos índios e pela Companhia de Jesus e era dedicada a Nossa Senhora da Luz. Com a expulsão dos jesuítas do Brasil em 1759 os bens da companhia de Jesus passaram à coroa de Portugal e sofreu uma reforma que alterou totalmente sua forma arquitetônica.

Ao entrarmos na catedral o que mais chama a atenção é o teto elaborado por João de Deus e a mão de obra indígena em tons de azul que retratam o espírito santo e levou quase 27 anos para ficar pronto. No entanto, a maior riqueza e destaque da Catedral fica por conta do altar-mor em talha dourada do século XVII que foi tombado pelo IPHAN em 1954, o altar secundário à direita que exibe o símbolo maçônico do Santo Graal (quando a catedral foi reformada o então rei de Portugal D. Pedro II que era maçom exigiu que a catedral incluísse um altar para a maçonaria), além do altar secundário à esquerda que guarda um exemplar de uma santa em madeira onde era de costume esconder minérios para não pagara impostos (a mais conhecida santa do pau oco). Em anexo à catedral fica o Museu de Arte Sacra (R$ 5,00 entrada).


Altar Secundário com santa do pau oco
Convento das Mercês
O edifício que já abrigou desde seminário a corpo de bombeiros hoje recebe artefatos em exposição como a cópia da primeira constituição do país, além de dois automóveis entre outros presentes pertencentes ao ex-presidente Jose Sarney. A entrada no convento é gratuito e o patio ao ar livre oferece uma bela vista do centro histórico da cidade.
Palácio dos Leões
Quando os franceses fundaram a cidade em 1612 construíram uma Fortaleza com vista para o mar para proteger-se dos invasores, esta depois de alguns anos foi tomada pelos portugueses, remodelada e hoje abriga o Governo da cidade.
Teatro Arthur Azevedo
O segundo mais antigo teatro do país ficou abandonado por cerca de 30 anos até ser restaurado em 2005 e hoje abriga grandes peças e espetáculos nacionais e internacionais. Ele fica a poucos metros do Largo do Carmo, uma pequena praça onde aconteceu um dos mais importantes fatos históricos maranhenses: a batalha entre holandeses e portugueses, em 1643.

Casa das Tulhas (Feira de Praia Grande)
No coração do centro histórico é possível encontrar em um casarão do Séc XIX transformado em feira com diversos quiosques repletos de sabores do maranhão, a começar pelo guaraná Jesus, um expoente da região com seu gostinho de tutti-frutti com leve toque de canela, a tiquira ou tequila (aguardente de mandioca) além dos pescados, camarões secos, panelas de ferro e alumínio e artesantos típicos do estado.

Onde comer: o restaurante Senac que fica bem perto da Catedral da Sé uma ótima pedida, principalmente para quem deseja provar a culinária local e frutos do mar (buffet livre custa R$ 55,00 e inclui o tradicional arroz de cuxá da culinária maranhense entre outras delicias). Já o Cafofinho da Tia Dica é outra opção bem no coração dos centro histórico com opções de cardápio de comidas regionais.

Onde ficar: apesar de ter praias bem movimentadas como a de Calhau, Olho d´água, Caolho, etc, com diversas barracas a beira mar, a cidade reserva mesmo muitas descobertas em seu centro histórico, por isso recomendo a hospedagem no Grand Hotel São Luiz que fica muito bem localizado ao lado da Catedral e a poucos passos dos principais atrativos (táxi rodoviária-aeroporto ao centro custa em torno de R$ 35-40).
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